Eu quero um carro zero

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Quando se trabalha em cargo publico, especialmente, diretamente ligado a um político importante, as pessoas sempre se aproximam querendo algo, imaginam logo um gordo salário no fim do mês, mas nem sempre é assim. Conto o caso, mas não cito nomes.

Nina levantou assustada já passava do horário marcado com o amante na concessionária. O mimo um carro novo era presente prometido embaixo dos lençóis do motel Concord, para substituir o velho Uno duas portas, com um amassado na porta do motorista. “Ah...Kikinho não pega bem a namorada de um político andar por ai, em carro velho e amassado”, ela fez ele repetir a frase em voz alta, já que haviam bebido muito Lambrusco naquela tarde de quarta-feira, quando ele deixou a Assembléia fugido assim que Nina ligou dizendo que não tinha aula naquele dia.
Nina chegou à concessionária em cima do seu salto agulha 10cm, para não ficar na cara que ainda estava no colegial, exemplificando, Nina nem tem carteira de motorista, mas a exibida faz de conta que tem uns dezenove aninhos. Engana pelo excesso de exuberância.
- Kiko cadê você? Já estou aqui e escolhi um Golf cinza lindo. Você vai adorar. Não! Você vai amar.  A-mar.
- Querida eu não posso mais comprar o presente que tinha prometido a você. O dinheiro era de contratos de licitações e tive que repassar o dinheiro para o “Turco”. – Disse a voz do outro lado da linha. Seu amorzinho que tinha o apelido de kiko, assim Nina o chamava.
- Como assim?! Kiko vem já pra cá comprar o meu carro.
- Esquece isso. Vai embora tenho que desligar nossa conversa deve estar sendo gravada.
- E o que eu tenho com isso? Eu só quero meu carro. - Porque mulher é assim? Quando teima com algo não tem Cristo que agüente.
- Não tem mais carro, não tem mais emprego no Detran e esquece o salário de R$3.200 reais todo mês.
- Eu vou ai na Assembléia agora e faço um escândalo! – Nina estava na pior fase do mês – TPM. Sentiu o fogo subir debaixo para cima e então explodiu em raiva, ira e palavrões, os mais feios são cuspidos pelo celular em plena concessionária, o assessor que ela jura que é político. Ele disse, então ela acredita.
- Pode ir na ALE benzinho e faça seu escândalo para os Federais que estão lá agora mesmo. Dê uma olhada nos sites. Ferrou tudo. Entendeu gatinha!
- E os R$ 70 Mil que você disse que tinha em casa? Cadê?- E uma onda de calor carregado de vergonha tomou seu corpo praticamente sem roupa. Pernas e peito dizendo “oi” para os vendedores de carros da concessionária.
Em um minuto tudo mudou. Nina estava linda feliz da vida em ganhar um carro zero, só seu. O Uno ela ganhou de um ex-namorado. Um professor de filosofia da Universidade Federal do Estado. O coitado ganhava muito mal, o dinheiro ia todo em motéis e presentes para Nina. Na ultima tentativa de fazer Nina parar de ver outros homens ele deu o próprio carro de presente a menina com cara de anjo e de pernas abertas era a porta do inferno.
Não adiantou nada. Uma semana depois Nina estava saindo do motel com o novo “namorado”, um assessor de político encrencado com a Polícia Federal.
Saiu de lá ainda falando ao celular pra não encarar os olhos afoitos dos homens. Falando sozinha porque “Kiko” desapareceu e não atendeu mais o celular. O contador de historias não tinha mais nada para falar.

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